quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Capitão Cap Evang Juvenal Ernesto da Silva - In Memoriam

Capitão Cap Evang Juvenal Ernesto da Silva - In Memoriam:


Nome de guerra: Juvenal
Nascimento: 20 de junho de 1907, em São Roque - SP.
Filho de: Joaquim Ernesto da Silva e Maria da Silva.

Aos 16 anos mudou-se para Santo Amaro - SP, onde passou a frequentar a Igreja Metodista. Batizou-se nessa Igreja em 1924. Iniciou seus cursos de Letras e Teologia em 1927, no Instituto Metodista Granbery, em Juiz de Fora, tendo se formado em 1935. Iniciou sua vida de pastor em Valença e Campinas. Casou-se com Carmem de Oliveira em 1936, após o que serviu como Capelão do Instituto Porto Alegre - RS até ir para Nashvile - USA fazer seu Mestrado. Retornou ao Brasil em 1942. 


Ao se organizar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que deveria participar das operações da 2º Guerra Mundial, foi instituída a Capelania Militar por Decreto de Lei n. º 6.535 de 26 de maio de 1944. Porém, a Capelania Militar Evangélica, só teve a sua formal instituição em 13 de julho de 1944 com a nomeação de dois capelães evangélicos: os pastores João Filson Soren, e Juvenal Ernesto da Silva. Soren foi designado para o 1º Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio); Juvenal, para o 6º Regimento de Infantaria. Posteriormente ambos tiveram suas atividades acrescidas, cabendo ao capelão pastor Soren, atender ainda, ao 11º Regimento de Infantaria, e ao capelão pastor Juvenal, atender as unidades de Artilharia e Engenharia. Partiram para Itália no 2º escalão da FEB, em 22 de setembro de 1944.

Durante a Campanha da FEB, o Capelão fez o seu papel, dando conforto espiritual aos nossos pracinhas. Também lutou, passou fome e frio. Ficou internado no Hospital com duas costelas quebradas. Promoveu reuniões de oração e batizou soldados. Inclusive, um que foi batizado em Montese, em baixo de uma Oliveira, com a água valiosa de seu cantil, ao som dos bombardeios: foi um batismo por aspersão. Inclusive, outros também foram batizados entre os escombros de uma casa, arrasada pelas bombas, mas este foi um trabalho árduo, pois ele encontrou os soldados já espalhados pelo front de guerra.


Capelão Juvenal informa que sua função era a de confortar os feridos, os enfermos, visitar, levando palavras de conforto tanto para os que iam para a frente de combate como para aqueles que estavam à espera de serem chamados para a luta. Se preciso, até sepultá-los, no que ele dá graças a Deus por não ter sido preciso. Havia, portanto, um trabalho sem descanso, pessoal, com todos os soldados que o procuravam – evangélicos, católicos, ateus. Assim, muitas vezes ele era levado junto com o Comando, acompanhando as tropas.

O dia-a-dia na guerra: Dependendo das circunstâncias, passava noites inteiras no front. Às vezes, perdia-se a noção do tempo, não se sabia o horário de levantar, nem de deitar. Tudo dependia das batalhas que se desenrolavam.

Uma experiência curiosa: conta nosso capelão que certa ocasião as tropas entraram no jardim de um palácio para um descanso rápido. Na guerra, entra-se em qualquer jardim ou casa. Entraram e estacionaram os tanques naquele local. Era um palácio muito bonito e. ao entrarem, um mordomo disse que poderiam ficar à vontade, e que estavam no palácio do grande músico e tenor Beniamino Gigli. Então o capitão Abreu fez com que todos recuassem, porque aquela casa não era a de um simples italiano, pois Beniamino Gigli era um cidadão internacional, conhecido em todo o mundo. E, ao sinal do apito, toda a tropa saiu. O capelão passou a admirar ainda mais o capitão, que sabia respeitar o valor de um dos maiores representantes da arte musical. Ficou, portanto, fã dos dois.

Medalha “John Wesley” da American Methodist 250th Anniv. (1703-1953):


A profissão de fé de um soldado: foi uma das experiências mais marcantes de nosso capelão. Os combates aconteciam em Montese. Um dos soldados recebeu ordens expressas para ficar em determinada posição e dali não sair, mesmo que o número de soldados inimigos fosse grande. Ele tinha de matar ou morrer. E ele obedeceu! Felizmente, nenhum inimigo apareceu. Depois de removido dali. entre lágrimas e soluços, procurou o capelão para se balizar e fazer sua profissão de fé. “Já queria fazer isso há algum tempo.” disse o soldado, “mas se eu lhe pedisse isso antes, o senhor poderia pensar que eu quisesse fazê-lo apenas por estar em grande perigo. Agora, fora do front de guerra, continuo a desejar o batismo e a profissão de fé.” Ele frequentava a Igreja Presbiteriana que ficava em frente ao Palácio da Guerra, no Rio de Janeiro. Tinha apenas 21 anos! O capelão, então, tirando um pouco da água do seu cantil – água muito preciosa para a sua sobrevivência – tornou-a ainda mais preciosa pelo batismo. Um pouquinho de água…Nós, metodistas, batizamos por aspersão. Este fato tão maravilhoso se deu entre os escombros de uma casa arrasada pela guerra. Muitas outras profissões de fé foram realizadas. Um soldado fez sua profissão de fé embaixo de um pé de Oliveira, único local disponível naquele momento.


Os dois capelães só voltaram ao Brasil após o término do conflito. O pastor Juvenal Ernesto da Silva, chegou ao Rio de Janeiro em 18 de julho de 1945, acompanhando o 1º escalão de embarque; e em 22 de agosto, desse meo ano aportou no Rio de Janeiro o pastor João Filson Soren, que regressou com o 2º escalão.


Os objetos usados durante a campanha. Ao centro, a caixa com os objetos para comunhão:



Após a guerra ele transferiu-se para São Paulo onde serviu no Segundo Exército, como Capelão. Sua aposentadoria foi como capelão e pastor. Casou-se pela segunda vez em 1979, com Cacilda, em Araçoiaba da Serra.


O capelão Juvenal Ernesto da Silva foi alvo de muitas homenagens, recebendo a Medalha do Pacificador, entregue pela Segunda Região Militar em São Paulo, unidade do Ibirapuera, e um punhal de prata da mesma unidade, quando se aposentou.


O Capelão Juvenal faleceu já bem idoso em Araçoiaba da Serra, dia 5 de julho de 1997. Foi sepultado no cemitério da Saudade em Sorocaba/SP.

Jamais serão esquecidos!

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