Tenente Coronel Av Piragibe Fleury Curado - In Memoriam:
Página em homenagem a um oficial e piloto de caça da FAB,
CMT do 1° GAvCa, falecido em 1980 durante um voo de treinamento na
Base Aérea de Cerro Moreno, Antofagasta – Chile.
Algumas fotos da sua carreira:
1º/4º GAv. Curso de caça em Fortaleza.
Foto da prontidão quando da renúncia do Presidente Jânio Quadros em 1961:
1º/1º GAvCa em 1965 - voando GLOSTER METEOR.
Fleury é o 3º em pé da direita para esquerda em Santa Cruz, Jambock 1965:
Quintino, Carlos, Gaio, Bueno, Fleury, Ayres, Asvolinsque,
Soares, Lencastre, Carlos, Gonçalves, Celso e Luzardo
Traslado de 5 TF-33 em dez/1967.
Servia em Fortaleza no 1º/4º GAv.:
2º/1º GAvCa em 1976 - voando F-5E.
Era o S-3 (Oficial de Operações da Unidade).
Espadas 1976 - Esq para Dir - Rosalvo, Sabino, Godinho, Duprat,
Fleury (5º da esquerda para direita), Fiuza, Caju, Camargo, Coelho (Arm):
O acidente:
CMT do 1° GAvCa, falecido em 1980 durante um voo de treinamento na
Base Aérea de Cerro Moreno, Antofagasta – Chile.
Algumas fotos da sua carreira:
1º/4º GAv. Curso de caça em Fortaleza.
Foto da prontidão quando da renúncia do Presidente Jânio Quadros em 1961:
1º/1º GAvCa em 1965 - voando GLOSTER METEOR.
Fleury é o 3º em pé da direita para esquerda em Santa Cruz, Jambock 1965:
Quintino, Carlos, Gaio, Bueno, Fleury, Ayres, Asvolinsque,
Soares, Lencastre, Carlos, Gonçalves, Celso e Luzardo
Traslado de 5 TF-33 em dez/1967.
Servia em Fortaleza no 1º/4º GAv.:
2º/1º GAvCa em 1976 - voando F-5E.
Era o S-3 (Oficial de Operações da Unidade).
Espadas 1976 - Esq para Dir - Rosalvo, Sabino, Godinho, Duprat,
Fleury (5º da esquerda para direita), Fiuza, Caju, Camargo, Coelho (Arm):
O acidente:
O Tenente Coronel Fleury realizava uma visita na Base Aérea de Cerro Moreno, em Antofagasta – Chile, quando foi convidado para voar em uma aeronave Hunter, do Grupo de Aviación n° 8, em uma missão de combate simulado contra aeronaves F-5.
Durante o voo, ao realizar uma manobra de evasão para escapar de um F-5 que o perseguia, o piloto do Hunter, que à época era o Comandante do Grupo 8, entrou em uma nuvem à baixa altura, perdeu o controle da aeronave e provavelmente colidiu nas águas do Oceano Pacífico. Os dois pilotos nunca foram encontrados.
Fonte: https://aviation-safety.net
"O último Vôo do T.Cel.AV Piragibe FLEURY Curado"
Reinaldo Peixe Lima - Cel.Av.RR
Jaguar 25 - Cmt. 1o GAC 1988/1989
Conheci o Fleury ainda nos tempos de Anápolis, da 1a ALADA, onde servimos juntos durante os anos de 73 e 74. Nos tornamos amigos logo de cara, principalmente depois que descobrimos que fazíamos aniversário no mesmo dia, 23 de dezembro. O signo - Capricórnio - ele curtia bastante.
Mais tarde, em 76, Fleury assumiu o Operações do 1o Gp. Av.Ca. com S3 (oficial de operações do Grupo) do T.Cel. Baptista, e me perguntou se eu gostaria de voltar a servir em Santa Cruz. Logicamente, após 3 anos de Mirage, voar mais um avião supersônico novo, o F-5, recém incorporado à FAB, e ainda mais no Rio de Janeiro, para mim era um convite e tanto. Aceitei na hora, mas como o GDA (Grupo de Defesa Aérea) estava recebendo novos pilotos, o COMDA (Comando de Defesa Aérea) só me liberou no meio do ano, após muita nacele traseira de F-103.
Em julho finalmente, fui transferido para o Grupo de Caça e iniciei logo a instrução no F-5. No final daquele ano, já operacional na nova "viatura", assumi o Operações do 1o Esquadrão, que era comandado pelo Maj. Sérgio. O comandante do Segundão era o Potengy.
Fleury era um líder natural, inteligente e congregador. Juntamente com o Baptista, outro caçador de altíssimo gabarito, formaram uma dupla inesquecível em termos de camaradagem, operacionalidade e prestígio para o Grupo de Caça naqueles dois anos. Some-se a isso, o fato de que o Comandante da BASC era Cel. Nelson Taveira, caçador de coração e um dos grandes comandantes que por lá passaram.
Foi nesta época, final de 76 início de 77, que o Grupo veio a ocupar as suas atuais instalações na "Cidade da Caça", deixando para trás o Hangar do Zepelim, o "Bibicão", palco e testemunha de tantos fatos históricos da nossa Aviação de Combate.
Após estes 2 anos no Grupo de Caça, Fleury foi para a ECEMAR (Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica), e lá permaneceu com instrutor.
Já com a "bolacha cheia", isto é, com o Curso Superior de Comando realizado, Fleury estava pronto para assumir o Comando do 1o GAC (Grupo de Aviação de Caça), o que ocorreu em janeiro de 1980, quando substituiu o T. Cel. Ribeiro.
Para mobiliar o seu Estado Maior, Fleury não teve a menor dificuldade, pois todos queriam servir com ele no Grupo. Para S3 convidou o Potengy, outro Caçador puro-sangue, que na época voava no DAC como checador de Boeing 737, e não pensou duas vezes para largar a "boca boa" e vestir macacão de vôo novamente. Como S4 (oficial de material do Grupo) foi convidado o Tacarijú, Eu e o Caju, que estávamos na "geladeira" no COMAT (Comando Aerotático), voltamos para o Grupo como S2 (oficial de informações do Grupo) e S1 (oficial de pessoal do Grupo) respectivamente.
Os Comandantes de Esquadrão eram o Quírico 2o /1o e o Zorron no 1o /1o, que completavam o experiente time de "Caciques" do Grupo de Caça, pois todos nós já tínhamos bem mais de 1000 horas de Caça e no mínimo 500 horas de F-5.
Aquele ano começou com novidade, pois o Grupo deslocou para Canoas logo no início de fevereiro para fazer uma campanha de Ataque ao Solo no Estande de Tiro São Gerônimo. Era o princípio de um conceito inovador, onde uma Unidade de 1a Linha não precisava interromper sua atrividade operacional para ficar imobilizada praticamente 2 meses, voando apenas em prol da instrução dos novos pilotos.
Regressamos de Canoas em março, e uma boa notícia nos aguardava: o Grupo de Caça havia sido convidado para visitar a 1a FIDA - Feira Internacional de Aeronáutica (hoje FIDAE), em Santiago do Chile.
Sempre houve muita afinidade entre as Forças Aéreas do Brasil e do Chile, sendo que no ano de 1977, nós havíamos recebido seis pilotos da FACh (Força Aérea do Chile) para ministrar toda a instrução teórica e prática do F-5. Nessa época o Chile, sob o Governo do Gen. Pinochet, sofria um terrível embargo comercial dos Estados Unidos, e tinha muitas dificuldades para fazer voar sua frota de F-5. Em 8 meses de instrução bastante puxada, e muita dedicação de ambas as partes, os pilotos chilenos receberam do 1o Grupo de Caça seus diplomas de pilotos operacionais de F-5.
O convite para visitar a FIDA certamente teve a ver com esta convivência anterior e a camaradagem gerada entre os Pilotos de Caça do Brasil e do Chile. Vinha a ser também uma forma de retribuir a acolhida e o suporte dado pelo Grupo de Caça e pela FAB, em uma época difícil para aquele país amigo.
Ficou decidido que iriam 5 pilotos: o Cmt. do Grupo, os Cmt. dos dois Esquadrões, o Póvoas (que era o Chefe do Centro de Operações Aéreas - COA - da Base) e eu como S2.
Partimos para o Chile num Avro da FAB em 16 de março, e após um pernoite em Buenos Aires, seguimos para Santiago no dia seguinte.
Recebidos por um oficial de ligação, fomos para o Hotel de Trânsito da FACh, no centro de Santiago. Naquele mesmo dia chegaram de Antofogasta os pilotos de Caça da Ala no 1, que hospedava o Grupo 7 (dos F-5E) e os Grupos 8 e 9, que operavam o Hawker Hunter. À noite, no bar do Hotel, encontramos nossos ex-alunos Coudou, Bascuñan e Zuniga, que fizeram a maior festa e nos apresentaram aos resto do Caçadores.
Foi quando conhecemos o T. Cel. Guevara, comandante dos famosos "Panteras Negras", o Grupo 9 da FACh, Esquadrão altamente operacional e guerreiro, que havia participado de missões reais de emprego na derrubada do governo Allende, inclusive do ataque final ao Palácio de "La Moneda", sede do Governo.
Guevara era uma figura carismática e líder natural de todos aqueles Caçadores que ali estavam presentes. Sentimos isso quando de sua chegada no local, quando imediatamente passou a ser o centro das atenções. Dirigiu-se até onde estávamos eu e o Fleury, e iniciamos uma conversa fraternal, de Caçadores que se admiram e se respeitam. Em poucos minutos já éramos amigos de infância. Foi impressionante a empatia e o entendimento entre Guevara e Fleury! Creio que reconheceram um no outro as qualidades que os destacavam dos demais...
Neste momento, acho eu, cruzaram-se os destinos, e provavelmente já estava escrito em algum lugar o que viria acontecer poucos dias depois. Era o primeiro "elo" da corrente... elemento de Hawk Hunter
Nesta conversa inicial, já ficou claro que Guevara era um apaixonado e vibrante Piloto de Caça, com um amor excessivo ao Hunter, aeronave que considerava como uma das melhores do mundo. Ele havia participado do traslado de uma das 6 aeronaves que vieram voando da Inglaterra, em uma rota audaciosa e temerária que saindo de Londres, passava por Sevilha, Las Palmas, Dakar, Monróvia (Libéria), Ilha de Ascenção, Recife, Rio de Janeiro, Assunção e finalmente Antofogasta, no norte do Chile! Nas etapas Monróvia - Ascenção (890 milhas náuticas ) e Ascenção - Recife (1240 milhas náuticas), foram utilizados tanques externos que tiveram que ser alijados no meio do Oceano Atlântico.
O convite para visitar a Ala no 1 em Antofogasta, e conhecer os Esquadrões de F-5 e de Hunter surgiu já no dia seguinte, durante a inauguração da FIDA. Participameos de um almoço com o Comandante da Força Aérea, Gen. Fernando Matthei, onde estavam presentes todos os pilotos de combate que se encontravam em Santiago. Nesta oportunidade, o Cmt. Guevara fez valer o seu prestígio, e conseguiu do Gen. Matthei a autorização para a nossa visita à maior Base da Aviação de Caça da FACh. Mais um "elo" na corrente...
Ficamos ainda dois dias em Santiago aguardando não só o término da FIDA, como também a permissão das autoridades do Ministério da Aeronáutica para permanecermos mais 3 dias no Chile, nesta visita à Ala no 1, a qual não constava da programação inicial. America do Sul
Tudo acertado, viagem autorizada, seguimos em vôo comercial para Antofogasta (o 3o elo se juntava à corrente). Lá chegando, ficamos impressionados com a aridez do local: situada às margens do Oceano Pacífico, a cidade limita-se a leste com um dos desertos mais áridos do mundo - deserto de Atacama - que serviu inclusive com campo de treinamento para os primeiros astronautas norte-americanos que pousarsam na Lua!. Trata-se de uma região de baixíssimos índices pluviométricos, e quase não existem árvores. Tudo é da mesma cor marrom do deserto.
Neste primeiro dia fizemos um "tour" pela cidade e nos alojamos em uma casa de hóspedes na Vila dos Oficiais, com a dispensa cheia , taifeiro, e tudo o mais.
Os Esquadrões chegaram de Santiago naquela tarde, e à noite saímos para jantar com nossos amigos em um dos vários restaurantes da cidade especializados em frutos do mar. O litoral do Chile é quase todo banhado pela Corrente de Humboldt, que vem da Antártida trazendo em suas águas geladas muitos peixes e mariscos, que fazem da indústria pesqueira uma das principais atividades econômicas daquele país.
No dia seguinte visitamos os Esquadrões e todas as instalações da Ala no 1, cuja postura guerreira nos impressionou. Todos prédios eram camuflados (inclusive o playground das crianças!), e baterias de mísseis e canhões antiaéreos guarneciam todo o perímetro da Base. A situação de litígio constante com a Argentina e com a Bolívia levaram o Chile à essa postura de "pronta-resposta" realmente efetiva. Na parte da tarde uma surpresa nos aguardava: fomos de helicóptero - um Sikorsky S-55 - conhecer o deserto de Atacama. Posamos no meio do nada, e o helicóptero cortou o motor. Nunca vi nada parecido em termos de aridez e secura. Era o tipo de lugar onde um piloto de Caça devia evitar uma ejeção!
Durante a visita ao Grupo 9, o Cmt. Guevara novamente atiçou os caçadores presentes, enaltecendo as qualidades do Hunter contra o F-5 em missões de combate. Com a "grita" dos pilotos de F-5, ele então fez o desafio: realizar um vôo de dois Hunter biplace contra dois F-5F, cada aeronave levando um piloto chileno e um brasileiro, para tirar a dúvida de quem seria o melhor...
Deveríamos retornar à Santiago no dia seguinte, e naquela noite haveria recepção na residência do Gen. Opazo, Comandante da Ala no 1. A autorização para o vôo, dada creio, pelo Próprio Gen. Matthei, chegou ao nosso conhecimento durante o jantar ( mais um "elo"!). O vôo seria realizado pela ,manhã, e a tarde regressaríamos paro o Brasil, via Santiago.
Após o jantar regressamos para a "nossa" casa na Vila, e ainda antes de nos recolhermos, sentamos na sala para conversar. Nossa preocupação era grande, porque o Fleury ia voar com Guevara, e aí residia o perigo. Por melhor que fosse o desempenho do Hunter, nós sabíamos que ele jamais seria capaz de superar em combate uma aeronave de outra geração como F-5! Sem pós-combustão, sem flape de manobra e pouca potência, comparado com o F-5E o Hunter não tinha a menor chance de sobreviver.
Alertamos o Fleury para que tivesse muito cuidado, pois o Guevara, pela sua personalidade e sendo um dos pilotos mais voados em Hunter da FACh, ia fazer de tudo para não perder aquele combate.
No dia seguinte acordamos cedo, tomamos café e fomos para o brifim, dado por Guevara. Nos F-5F, com pilotos do grupo 7, iríamos eu o Quírico, e nos Hunter iriam o Fleury e o Póvoas. Tudo acertado, nos equipamos e seguimos para os aviões. Ainda cruzei com o Fleury e Guevara que seguiam para a linha de vôo dos Hunter, e discretamente fiz-lhe o sinal de "olho vivo", ao que ele me respondeu com um sorriso e o sinal de positivo. Foi a última vez que o vi.
No cheque rádio, todos os aviões entraram, mas o destino não quis que eu participasse daquele vôo: meu interfone não funcionou nem por decreto, apesar dos esforços dos mecânicos. Desci do avião a contragosto, mas não havia a menor possibilidade de realizar um vôo daqueles sem comunicação bilateral entre os pilotos.
Fiquei na pista observando as decolagens, primeiro os Hunter e depois os F-5. Foi quando notei que havia uma camada baixa de nuvens sobre o mar, e também uma densa névoa onde as aeronaves desapareciam após a curva de decolagem ( a corrente estava agora quase completa...).
Encaminhei-me então para a sala do OPO (oficial de permanência operacional), onde o Zorron, o Oficial de Permanência e outros pilotos monitoravam, as frequências dos dois elementos que acabavam de decolar. Os combates seriam realizados em área de instrução sobre o mar, algumas milhas ao Norte da Base, e sob vigilância Radar constante.
Eu ainda tentei acompanhar o que estava acontecendo no combate, mas com o papo-rádio em espanhol não dava para entender muita coisa. Preocupado, não consegui me desligar do vôo, apesar do papo no OPO ter "gerado". Lá pelas tantas senti que o combate havia terminado, e uma das aeronaves não entrava no cheque-rádio. Prestei um pouco mais de atenção, e informei ao OPO, Imediatamente todos pararam de conversar. Pelos códigos, o OPO informou que o líder dos Hunter é que não estava respondendo. Foi feita então uma indagação pelo líder dos F-5 ao Controle Radar, que informou ter também perdido o contato com a aeronave. O acidente para mim estava configurado, e em segundos, revi o "filme" do acidente do Ten. Fiuza em Santa Cruz, cujo avião foi encontrado na Serra do Mar 10 dias depois da perda de contato rádio e Radar.
O líder comandou então reunião, e comunicou estar retornando à Base. Fomos para a pista aguardar as aeronaves, e lá já encontramos quase todos os os pilotos da Ala, inclusive seu Comandante.
Alguns minutos depois, dois F-5 e um Hunter puxaram o pilofe. Nesse momento, a aeronave de Fleury e Guevara já estava entrando na fase de "Incerfa" (incerteza de condições de vôo). Os pilotos desceram dos aviões com ar sério e preocupado, o que certamente não ocorreria em uma situação normal, pois as gozações e o "debrifim" teriam início antes mesmo do primeiro cigarro.
Eu e Zorron fomos ao encontro do Quírico, que em poucas palavras nos informou que os F-5 (como era de se esperar) encaudaram os Hunter, e Guevara, após tentar sem sucesso livrar-se dos perseguidores, colocou o nariz embaixo e fugiu para dentro das nuvens, cujo topo deveria estar a uns 3,500 pés, e a base indefinida, porém muito baixa sobre o mar. Os F-5 então abandonaram a perseguição e deram o "combate encerrado".
Os minutos que se seguiram foram de agonia, com todos olhando para a inicial na esperança de ver um Hunter, e também para o relógio, de olho no tempo de vôo restante. Podia ser até que o Guevara estivesse vindo em vôo razante para um ataque à Base, ou algo assim... Qualquer pensamento valia pra manter a esperança, e nos fazer acordar daquele pesadelo.
O tempo, porém, esgotou-se rapidamente e tivemos então a certeza de que aquela aeronave tão ansiosamente aguardada, não estava mais voando. Sua autonomia esgotara-se. Imediatamente decolaram várias aeronaves, e a busca do Hunter inciava-se.
Fomos então para o Centro de Operações Aéreas da Base, para acompanhar as informações que chegavam das aeronaves. Do COA foi feito então, via telefone, o comunicado do ocorrido ao COMAT no Rio de Janeiro: o Cmt. do Grupo de Caça havia desaparecido abordo de um Hunter da FACh, juntamente com o Cmt. do Grupo 9.
As Aeronaves, nessa busca inicial, voaram até o por do Sol e retornaram sem nenhuma notícia.À noite, reunidos em nossa casa, tristes e abatidos ao encarar a dolorosa realidade, resolvemos que o Póvoas, Quírico e Zorron retornariam imediatamente para o Brasil, e eu ficaria em Antofogasta acompanhando as buscas.
No dia seguinte, enquanto despedia-me dos companheiros no aeroporto civil, chegava na Base uma aeronave C-130 SAR do 1o /6o G.Av. de Recife, enviada pela FAB para auxiliar nas buscas.
Durante a semana seguinte, todas as aeronaves disponíveis voaram do nascer ao por do Sol, e não encontraram absolutamente nada, nenhum destroço, nenhum vestígio.
Sikorsky S-55No velho helicóptero Sikorsky, eu voei sobre a escarpada costa chilena por aproximadamente 250 milhas, desde Tocopilla (ao Norte de Antofogasta) até Taltal, um pouco mais ao Sul, em uma minuciosa busca por destroços e informações. Nestes vôos, sempre razante, pousamos em todas as vilas de pescadores e pequenas praias onde houvesse alguém para perguntar por indícios dos pilotos e da aeronave. Novamente as buscas foram infrutíferas: ninguém viu ou ouviu nada, e nenhum vestígio foi encontrado.
Sem possibilidade de realizar uma busca submarina com equipamentos apropriados (próximo à costa do Chile, nesta região especificamente, ocorre a Fossa de Taltal, uma das maiores profundezas abissais do Planeta, com mais de 8.000 metros de profundidade), em reunião com a Coordenação das buscas e o nosso pessoal do C-130, o Gen Opazo decidiu encerrar as buscas.
À noite, enquanto fui me despedir do Cmt. da Ala no 1 , em sua residência encontravam-se todos os comandantes de Unidade e os oficiais superiores da Ala. Foi quando o Gen. Opazo referindo-se àquele terrível acidente que privava as nossas Forças Aéreas de dois grandes líderes da Aviação de Caça, disse: "Aquela aeronave estava tão carregada de amizade, vibração , companheirismo e garra, que caiu..."
Voltei ao Brasil, ao Grupo de Caça, ao dia-a-dia do Esquadrão, com aquele sentimento de perda do grande comandante, e acima de tudo, do grande amigo. O que teria acontecido? O que realmente aconteceu dentro da nacele daquele Hunter? Apesar da manobra de Guevara não ter sido uma manobra "padrão", ele era experiente o suficiente para saber o que estava fazendo, ao assumir um risco calculado de recuperar a aeronave naqueles 3.500 pés sobre o mar, mesmo em condições de pouca visibilidade.
O tempo se passou, e alguns anos mais tarde, em 1987 quando eu cursava a ECEMAR, tive a oportunidade de conviver com vários oficiais estrangeiros que integravam minha turma. Entre eles havia um piloto de Caça chileno , Maj. Sarabia, que sempre participava das nossas "peladas". Numa das "cervejadas" depois de um destes jogos, conversávamos sobre aviação (para variar), quando surgiu o papo do acidente com o Hunter em 1980.
Sarabia havia chegado para servir na Ala no 1 no ano seguinte ao do acidente, e voara tanto no Grupo 9 quanto no Grupo 7, sendo operacional em Hunter e F-5. Contou-me então o seguinte: "durante um vôo de instrução de combate, alguns anos após o acidente que vitimou Fleury e Guevara, dois pilotos em um Hunter biplace, em uma situação de vôo picado, com alguns graus de flape em baixo e alta velocidade, tentaram recuperar a aeronave de um mergulho e o Hunter não obedeceu, cada vez picando mais. Como tinham altitude suficiente, tiveram tempo de reduzir o motor e baixar o flape de mergulho, conseguindo recuperar o avião com alguma dificuldade. Voltaram para a Base e relataram o fato. Foi então programado um vôo, com dois pilotos experientes, apenas para testar a aeronave nas mesmas condições em, que quase ocorrera a perda de controle. Novamente a aeronave se comportou com a mesma tendência de picar, que se acentuava na medida em que aumentava o angulo de picada e a velocidade".
Finalmente o acidente do Fleury estava explicado 7 anos depois! Infelizmente o Hunter não era tão bom quanto Cmt. Guevara supunha, e levara a vida de dois grandes comandantes de Caça por uma falha de projeto!
Foi o último e derradeiro elo da corrente, que se fechou naquela manhã sombria em Antofogasta, Norte do Chile, na Latitude exata onde passa o trópico de Capricórnio...
Fonte: https://www.abra-pc.com.br/
"TEN. CEL. AV. PIRAGIBE FLEURY CURADO"
Maj. Brig. Ref. Lauro Ney Menezes
Piloto de Caça - Turma 1948
Conheci o Tenente FLEURY: vibrador, maduro, opiniático , Piloto de Caça, ansioso por integrar a então disputada equipe de Instrutores do 1o/4o G.Av.
Confessando-se magoado pela recomendação que lhe fizemos de "buscar a perfeição" como Piloto Operacional, antes de candidatar-se a Instrutor da "Sorbonne" retrucou: -"Fiz do profissionalismo e do perfeccionismo minha religião". E provou...
Acompanhei-o, atento, na difícil tarefa (para ele, tão fácil) de disciplinar e empolgar a Tropa e os Estagiários do 1o/4o G.Av., durante dois anos inesquecíveis. E conseguiu fazê-lo. Com maestria...
Mais tarde, enfrentamos e vencemos juntos as diversas etapas da implantação do projeto ALAN e MIRAGE. Ele, sempre excelente, impecável e idealista. E extremamente capaz... Como prometeu, hasteou o Pavilhão Nacional no NuALADA (Núcleo da Ala de Defesa Aérea) com sua tropa formada, garbosa e orgulhosa, antes da data aprazada...
Voltei a tê-lo ao meu lado na Base Aérea de Santa Cruz. Vibramos, desfrutamos preciosos momentos de inesquecíveis realizações profissionais. E de solidificação da amizade. Juntos, também voamos. Sorrimos e choramos...
Comandante do 1o Gp.Av.Ca. Acompanhei todos seus passos na preparação para o Cargo. Perfeccionista, exemplar. Liderou muito e muitos, em pouco tempo. Piloto de Caça inexcedível, deixou exemplos.
Nos abandonou em 1980 , voando para a eternidade, a bordo de um avião de Caça. Como merecia...
Foi um prazer vê-lo à frente de tantas gerações de Caçadores. Pontificando e doutrinando...
Fonte: https://www.abra-pc.com.br/
"Oficial da FAB homenageia pai que morreu em acidente com caça em Antofagasta, no Chile"
Publicado: 29/10/2009
O Tenente Coronel Fleury, integrante da Força Aérea 103 no Exercício SALITRE II, voou em uma aeronave F-16 em homenagem ao seu pai, falecido em 1980 durante um voo de treinamento na Base Aérea de Cerro Moreno, Antofagasta – Chile.
Durante uma conversa entre alguns dos integrantes da Direção do Exercício SALITRE II, o General de Brigada Aérea (A) Ricardo Gutiérrez Recabarren relembrou o acidente ocorrido com o Tenente Coronel Av Piragibe Fleury Curado, em 26 de março de 1980, enquanto comandava o Primeiro Grupo de Caça (1° GAvCa), da Força Aérea Brasileira (FAB).
Naquele dia, quando o General Gutiérrez ainda era Tenente, o Tenente Coronel Fleury realizava uma visita na Base Aérea de Cerro Moreno, em Antofagasta – Chile, quando foi convidado para voar em uma aeronave Hunter, do Grupo de Aviación n° 8, em uma missão de combate simulado contra aeronaves F-5.
Durante o voo, ao realizar uma manobra de evasão para escapar de um F-5 que o perseguia, o piloto do Hunter, que à época era o Comandante do Grupo 8, entrou em uma nuvem à baixa altura, perdeu o controle da aeronave e provavelmente colidiu nas águas do Oceano Pacífico. Os dois pilotos nunca foram encontrados.
Aeronave F-16 do Grupo 8 da FAChHoje, decorridos mais de 29 anos, o Tenente Coronel Aldo Carbone, Comandante do Grupo 8 levou o filho do Tenente Coronel Fleury em um voo na aeronave F-16 da Força Aérea Chilena (FACh). Durante o voo, os Oficiais Aviadores do Chile e do Brasil sobrevoaram o provável local do acidente, tiraram fotos, circularam por três vezes e lançaram dois flares (objeto brilhante lançado por aeronaves de caça para despistar mísseis de guiamento infravermelho), simbolizando uma homenagem ao pai.
Jamais serão esquecidos!
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