Partitura "CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO "
de Guilherme de Almeida.
Ano 1944.
A Canção do Expedicionário, com letra do poeta campineiro Guilherme de Almeida e música do maestro paulistano Spartaco Rossi foi composta em agosto 1944 e lançada em disco em outubro do mesmo ano, pela gravadora Odeon, numa memorável interpretação de Francisco Alves (1898-1952), então um dos cantores de maior sucesso no rádio.
Sem nenhum apoio oficial do governo para realizar o projeto, intelectuais como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e notáveis como Assis Chateubriand, procuraram os irmãos Emílio, Vicente, Affonso, José e João Vitale, proprietários da mais importante editora de discos e livros em atividade no Brasil naquela época, e conseguiram deles a ajuda para que o disco pudesse ser lançado. E assim, com o importante apoio dos Irmãos Vitale, a Canção do Expedicionário ganhou notoriedade no rádio e passou a ser vendida em todas as lojas de discos do País.
Duas versões
Pouca gente sabe que a Canção do Expedicionário que é cantada até hoje não foi o hino oficial da FEB, embora tenha sido composta e lançada primeiro. A música oficial, reconhecida por Decreto Governamental, foi outra composição, lançada em disco no final de 1944, mas quase ninguém a conhece.
Escolhida por meio de um concurso realizado pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro, a Canção do Expedicionário oficial teve música composta pela professora Alda Caminha e letra de Luiz Peixoto, jornalista, teatrólogo e poeta carioca.
Na gravação do disco oficial, lançado pela gravadora Continental, a música foi interpretada por Manoel Reis, cantor que tinha uma atuação discreta no cenário artístico nacional da época, com participação da Banda do Batalhão de Guardas. O disco teve uma tiragem de apenas 130 unidades e, hoje, um exemplar é considerado raridade.
oficialização da música foi publicada somente no dia 28 de fevereiro de 1945, no jornal Folha da Manhã, no Aviso nº 520 assinado pelo então Ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra. No entanto, a oficialização não foi suficiente para alavancar e tornar conhecido o hino da FEB, já que a gravação de Francisco Alves era utilizada pela maioria das emissoras de rádio, inclusive como fundo musical ou de abertura do noticiário sobre a participação das tropas brasileiras na Itália.
Inspiração
Enquanto a letra do desconhecido hino oficial da FEB fala em batalhas e aniquilação do inimigo, a composição perpetuada na obra de Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi ressaltou o sentimento de patriotismo de todos os brasileiros. A letra fala dos valores do homem que sai do seu País de origem para lutar em terras desconhecidas, levando no coração a saudade da pátria.
Para descrever esse sentimento, o poeta juntou na letra versos de músicas folclóricas como “Meu limão, meu limoeiro” e expressões conhecidas naquela época, como “Luar do Sertão”, uma alusão à lendária música composta em 1914 por Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). O poema da Canção do Expedicionário utiliza versos inteiros de outras obras, embora em ordem diferente: “Casinha Pequenina onde nosso amor nasceu…; um é pouco, dois é bom, três é demais…” da música “Casa de Caboclo”, lançada com sucesso em 1928 e composta pelo alagoano Heckel Tavares.
Guilherme de Almeida ainda utilizou e adaptou um verso que era muito conhecido dos brasileiros: “Maria, o seu nome principia na palma da minha mão”. A frase é de uma letra de autoria de Luiz Peixoto, autor da versão oficial do Hino da FEB, de uma música feita em parceria com Ary Barroso, gravada por Sílvio Caldas em 1931, um reconhecido clássico da música popular brasileira.
A Canção do Expedicionário de Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi foi gravada com apenas parte da letra, pois o conteúdo integral não cabia no disco de 78 rotações. Por um pedido do maestro Spartaco Rossi aos Irmãos Vitale, a letra integral foi impressa na capa do disco.
Após o lançamento na voz de Francisco Alves, a música foi regravada várias vezes: pelo Corpo Musical da Guarda Civil do Estado de São Paulo, em disco Chantecler em 1961; por Inezita Barroso e a Banda da Força Pública do Estado de São Paulo, em disco Copacabana em 1963; pela Banda de Música da 1ª Divisão e Infantaria no LP “Marchas militares brasileiras”, da RCA Victor em 1968; pelo Coral RCA em 1971, no LP “Nossas canções”; e, no ano seguinte, pelo Conjunto Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, e por Orquestra e Coro com regência do maestro Azevedo Marques no LP “Sesquicentenário da Independência”, da Copacabana.
Composições de guerra
A música, durante a Segunda Guerra Mundial, embalou e encorajou as tropas no front. No intervalo das batalhas, alguns pracinhas aproveitavam o tempo fazendo canções. Entre eles está Natalino Cândido da Silva, soldado da 6ª Cia do Regimento Sampaio e participante efetivo dos combates em Monte Castello, na Itália. Ele é compositor da música “Sinhá Lurdinha”. A citada “Lurdinha” era a famosa metralhadora MG-42, utilizada pelos alemães. Natalino também é autor da música “Pro brasileiro, alemão é sopa”.
Outro sucesso é a música “Cobra não fuma”, que foi gravada no show “Só pena que voa”, realizado no Clube dos Praças da FEB, em Alessandria, na Itália, depois do fim da guerra.
O samba “Sorrindo e cantando”, escrito pelo soldado Pieri Junior destaca as qualidades de seu pelotão. A música “Desperta Brasil”, de autoria de Grande Othelo e Popeye do Pandeiro, e interpretada por Linda Batista, tem no refrão ”Queremos lutar, queremos vencer”, que foi o bordão da classe artística em prol da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, junto aos Aliados.
Também foram compostas músicas como “Tedeschi, portare via”, de autoria de José Pereira dos Santos; “No Brasil tem samba”, do Sargento Seraphim José de Oliveira, “Cabo Laurindo”, de Wilson Batista e Haroldo Carvalho; e “Lembrei” do soldado Alcebíades José (morto nos campos de batalha), entre tantas outras.
Fonte: Regina Lonardi - http://www.campoecidade.com.br/edicao-91-a-cobra-fumou/cancoes-de-guerra/
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